Celebrar o erro
Recentemente um jovem gestor perguntava-me como deveria lidar com os erros da equipa. A minha resposta foi: celebre-os!
No universo corporativo ainda é frequente o erro ser visto como tabu, algo que deve ser evitado a qualquer custo. Muitas empresas tendem para a punição às vezes, até expondo falhas individuais. Com esta atitude a inovação e o crescimento ficam limitados e aos poucos constrói-se um clima de medo e inibição.
O erro, sabemo-lo, é inerente à condição humana e, consequentemente, ao processo de trabalho. Desde que seja analisado de forma construtiva representa uma oportunidade única de aprendizagem e as organizações que conseguem transformar erros em lições práticas tendem a destacar-se no mercado.
Tudo o que acabei de escrever será do conhecimento dos líderes e os discursos ou afirmações que proferem irão neste sentido. Nada de novo, portanto. Mas e quando, de forma mais ou menos sub-reptícia, a atitude de punição se instala? Ou porque a promoção não vê a luz do dia, ou porque a pessoa que falhou deixa de ser alvo de atenção, até aos casos mais graves de retirada de responsabilidades. O mais curioso é que a liderança pode estar tranquila e achar que está tudo a correr bem. Muitas vezes são as chefias intermédias que adoptam esse tipo de comportamento. Porquê?
A minha experiência diz-me que a pressão exercida sobre as chefias intermédias é uma das causas. Nem todos sofrem a pressão da mesma maneira, é certo, e a acrescer à necessidade premente de apresentar resultados está também o exemplo vindo de cima. Líderes que reconhecem seus próprios erros e que partilham as lições aprendidas incentivam um ambiente mais colaborativo e inovador.
Na prática o que pode ser feito para encarar os erros como uma oportunidade?
Sendo uma adepta incondicional do feedback estruturado digo que a instituição de ciclos regulares de feedback construtivo, onde os erros possam ser discutidos abertamente para identificar soluções, é uma das melhores práticas. O treino em gestão de erros levando as equipas a lidar de maneira produtiva com as falhas, é outra. Também o incentivo à inovação com recompensas, mesmo que nem sempre resultem em sucesso imediato, leva a que as pessoas se libertem de inibições e que o ambiente passe a ser muito mais participativo. A era digital permite criar com facilidade repositórios de lições aprendidas em que erros passados estão documentados e podem ser consultados com facilidade por todos. Ainda no âmbito de mecanismos digitais criar notificações de erros sem receio de represálias pode ser uma prática interessante que contribui para a eliminação da culpa.
Nada disto significa aceitar a mediocridade, mas sim promover uma mentalidade de crescimento onde os erros sejam tratados como etapas do caminho para soluções mais eficazes. A celebração, a que me refiro no título, prende-se com o parar a seguir a um erro e perceber o que aconteceu, como aconteceu e como não voltará a acontecer – no fundo a instituição das reuniões ou momentos post-mortem, uma ferramenta que permite extrair valor de uma situação adversa.
Se celebramos os sucessos porque não celebrar os erros, encarando-os como uma oportunidade? Quero acreditar que se trata de uma estratégia de sucesso nas organizações. Ainda que exija algum tempo construir este tipo de cultura, sabemos que no mundo dinâmico em que vivemos quem aprende mais rápido e se adapta mais eficientemente possui uma vantagem competitiva inegável