A diversidade condescendente
Recentemente, numa conferência maioritariamente assistida por mulheres, entre as oradoras – em maior número- contavam-se dois oradores do género masculino que falaram sobre a política de género nas respectivas empresas que representavam. Ambos mencionaram, em tom irónico, que a audiência os assustava. As mulheres riram-se, assim como se riram sempre que, veladamente, os homens se referiam a que as mulheres são mais isto ou mais aquilo.
Um longo trabalho tem sido feito para que a igualdade de género e a paridade no mundo das empresas seja uma realidade mas, quer-me parecer quando detecto indícios de condescendência por parte dos homens, que a aceitação da paridade é muitas vezes aparente.
Essa condescendência pode manifestar-se como benevolência, uma forma subtil de paternalismo em que os homens, ainda que de maneira inconsciente, assumem que as mulheres precisam de protecção ou de ajuda especial para alcançar sucesso.
Esse tipo de comportamento tem expressão em acções que, embora pareçam de apoio, ainda são baseadas no estereótipo da inferioridade feminina. Alguns exemplos incluem elogios por competências ou conquistas em áreas vistas como masculinas (como tecnologia ou engenharia) parecendo enfatizar uma excepção à regra, ou a suposição de que mulheres que se destacam em cargos de liderança são atípicas. Há também casos onde se questiona, ainda que implicitamente, se a mulher alcançou uma determinada posição por mérito ou por quotas de diversidade.
Uma das maneiras de combater situações destas envolve tanto a educação como um esforço contínuo para reconhecer esses pequenos grandes sinais. Uma verdadeira igualdade de género requer uma mudança profunda de mentalidade, onde homens e mulheres são vistos como igualmente competentes e capacitados, sem necessidade de uma condescendência disfarçada de apoio.
E quando as mulheres se sentem elogiadas por essa condescendência? Ou quando acham graça? Especialmente quando o reconhecimento da sua competência ou habilidades vem de uma área dominada por homens? A interiorização de padrões de aprovação masculina, a falta de referências femininas em certas áreas e até mesmo o desejo de se sentir incluída ou respeitada em ambientes que são tradicionalmente masculinos, contribuem certamente para que tal aconteça.
Esse tipo de elogio pode gerar um sentimento momentâneo de validação, mas, a longo prazo, acaba por reforçar a ideia de que a competência feminina é uma excepção. Isso perpetua o ciclo de condescendência, e muitas mulheres podem aceitar esses elogios sem perceber o seu impacto real: a validação do “síndrome de impostor” que leva a que a mulher sinta que precisa de se destacar ou de ser excepcional para merecer estar naquele espaço, reforçando a ideia de que, em condições normais, ela não seria tão capaz quanto os seus colegas homens.
Promover a consciência sobre essa condescendência é crucial para que as mulheres consigam identificar esses comportamentos e, também, para que se sintam confiantes para procurar reconhecimento verdadeiro que valorize as suas competências de maneira equitativa e não como tendo superado expectativas.
E este é um passo que tem de ser dado pelas próprias mulheres.