A leitura
Na apresentação de um livro sobre a história de uma grande empresa o seu Presidente confessava com humor: “já experimentei muitas actividades para descontrair, desde o mindfulness ao yoga passando pelo pilates. Nada me faz melhor do que a leitura”. Ao mesmo tempo, enquanto as pessoas se misturavam após a apresentação, um outro gestor dizia: “eu não gosto de ler, nunca gostei”.
O que pode levar alguém a afirmar, de uma forma triunfante, que não gosta de ler obriga-me a um esforço de compreensão uma vez que para mim, a leitura, faz parte do quotidiano e será talvez o lugar onde mais aprendo sobre as pessoas e o mundo, ao mesmo tempo que daí retiro prazer. E se nos tempos tão sombrios que vivemos consigo ganhar alguma clareza de espírito e conforto, se consigo não perder o sentido de humor e também perceber que sou uma partícula ínfima do universo e que não devo levar-me muito a sério, à leitura o devo.
Um dos meus professores na faculdade, da disciplina de psicopatologia do adulto, costumava dizer-nos que para entendermos as pessoas seria mais proveitoso lermos Shakespeare do que estudarmos os manuais. É claro que o que ele queria dizer era que se só lêssemos os manuais pouco ficaríamos a conhecer sobre a natureza humana. E o que é mais eficaz para um gestor senão entender as pessoas, as suas ambições e desejos, as suas frustrações, a complexidade das relações interpessoais, que são o que determina os seus comportamentos?
A nível estratégico, a leitura, pode expandir a visão do mundo dos gestores ajudando a abordar problemas com perspectivas novas e inovadoras. Estimula a imaginação, a empatia e a criatividade, além de oferecer um escape do foco no trabalho. Esse escape pode funcionar como um dos maiores facilitadores da incubação criativa.
Longe de mim eliminar a importância das outras actividades para ganhar o recuo necessário que uma visão estratégica do mundo exige. Cultivar a atenção plena, reduzir o stress, manter a mobilidade e a resistência, são ganhos inestimáveis. Por outro lado os hábitos de leitura ensinam-nos a lidar com dilemas morais e conflitos complexos que forçam os personagens a tomar decisões difíceis. No caso, por exemplo, de alguns romances, tornam-se ferramentas poderosas para uma reflexão sobre os próprios valores e levam-nos a detectar nuances em situações que não são preto no branco, promovendo uma visão mais rica e nítida.
Acredito que a leitura pode ser um contributo valioso para a melhoria de competências como a visão estratégica, a gestão de conflitos e a tomada de decisão.