Quer mesmo reter talento?
Por definição, o talento não se retém, o talento inspira-se. Já escrevi esta frase e já a citei várias vezes.
Por todo lado, hoje, ouvimos falar de como é difícil recrutar e reter pessoas, quer sejam indiferenciadas ou altamente qualificadas. Aquilo que faz com que organizações idóneas e players de mercado continuem a permitir-se perder talento qualificado é um mistério para mim.
É frequente ouvirmos dizer que as pessoas não deixam as empresas, deixam quem as gere. Pode ser dito à exaustão e é, em grande parte dos casos, verdade.
No último mês encontrei três exemplos de pessoas muito qualificadas nas áreas tecnológica e industrial e com uma capacidade de entrega invulgar. Duas delas aceitaram novas posições noutras empresas e outra está cheia de medo porque vai ter um novo reporte que, anteriormente, “já lhe fez a vida num inferno”. As causas? Directores que comunicam a gritar, que fazem micro gestão ao ponto de ir directamente às equipas destas pessoas, descredibilizando quem as gere, que procuram oportunidades, não para desenvolver as pessoas, mas para encontrar a melhor maneira de lhes apontar qualquer micro erro, que promovem a competição que exclui a colaboração e que põe cada um a remar para seu lado.
Quando confrontados com a notícia de saída é como se caíssem das nuvens, não faziam ideia do desconforto do outro.
Diria que não fazem ideia do seu próprio desconforto. São eles próprios directores micro que pululam em empresas cuja cultura ainda permite e incentiva o tratamento por “Chefe”. Será que conseguimos imaginar um millennial da área tecnológica numa cultura de “Chefes” quando a tendência que se desenha é a do Unbossing?
A revista The Economist relatava que as empresas estão cada vez mais a achatar as suas estruturas e que “managers managing managers“, é prática a desaparecer. Talvez essa seja uma boa maneira de guardar o talento.
