Reuniões sem computador

 Em Coaching, Cultura de Empresa, Liderança, Mudança

Qual o efeito de convocar uma reunião de direcção com uma nota prévia, “Venham sem computadores”?  – Desconforto.

Num ambiente industrial, onde os números e indicadores de produtividade são fundamentais, e onde as apresentações são frequentemente acompanhadas por mapas, gráficos e rácios, qual o significado de uma reunião semanal sem projecções a partir do ecrã?

A história conta-se rápido: uma mulher que já ocupava um cargo de direcção numa área específica, foi promovida a directora geral de uma empresa industrial com mais de 1000 pessoas e passou a liderar uma equipa da qual fazia parte como par. Reconhecida por uns e a enfrentar a resistência de outros, curiosamente com mais intensidade por parte da única mulher que já compunha a equipa, na sua maioria masculina, ensaiou algumas tácticas que não desanuviaram o ambiente. Desde o querer incluir-se num grupo de WhatsApp já existente numa das áreas, a passar os primeiros dias no terreno para “aprender”, o que foi de imediato percepcionado como uma tentativa de micro gestão, nada alterou o clima que se manteve tenso.

Decidiu então assumir a vulnerabilidade da situação e simplesmente escutar a equipa. Com firmeza e empatia, colocou-se no papel do Outro. Ciente de que as pessoas nem sempre têm razão para os comportamentos que exibem, mas têm as suas razões, quis perceber a “razão da emoção”.  Após o bloqueio inicial vencido, ouviu a expressão de cada um sobre o impacto em si próprio das alterações na estrutura da empresa. Conseguiu retirar algumas conclusões, a mais importante das quais foi a de que a resistência que enfrentava não lhe era dirigida a si mas à situação, à mudança de papéis na gestão.

Porque é que falo em emoção? Ao compreender a resistência da equipa como uma reacção à mudança do equilíbrio pré-existente, a agora directora geral aplicou uma abordagem baseada na inteligência emocional.

Em 1990 os psicólogos Peter Salovey e John Mayer propuseram o conceito e em 1995 Daniel Goleman foi reconhecido, fora da academia, como o pai da inteligência emocional, definindo-a como a capacidade de reconhecer as emoções, tanto as próprias como as dos outros, e de gerir adequadamente as respostas emocionais.

Na história relatada a protagonista demonstrou em primeiro lugar a sensatez para parar e reflectir, ganhando a consciência que lhe permitiu um confronto construtivo com a situação. Em seguida teve habilidade para reconhecer as emoções presentes na equipa, tanto as suas como as dos outros, e para gerir a sua resposta a um conflito enfrentando-o.

Numa época em que a tendência é a de evitar o conflito, ou entrar numa espiral de acusações mútuas que confundem pessoas com situações, é cada vez mais importante encontrar o equilíbrio emocional nas relações profissionais. Os resultados de uma equipa dependem desse equilíbrio e os números vêm por acréscimo.