Conversas de praia

 Em Coaching, Cultura de Empresa, Desenvolvimento, Mudança

É tão feio ouvir conversas alheias como falar demasiado alto na praia. Era um grupo de quatro pessoas que discutiam animadamente salvo uma delas, embrenhada na leitura, temas como a homossexualidade e a construção de família, o empoderamento das mulheres e a super protecção das crianças. Tudo isto em cerca de meia hora que foi o tempo que consegui dedicar à escuta.

Começando pelo primeiro tema, percebi que, na perspectiva daquelas pessoas, o desenvolvimento harmonioso de uma criança será muito difícil no seio de um casal homosexual apesar de uma delas referir que, “se descobrisse que o meu filho era homosexual, não me importaria”. Daqui derivaram para a diversidade de género nas empresas (nas quais trabalham, depreendi) e como, “ainda não sabemos se o ambiente fica melhor ou pior”.

No que diz respeito ao empoderamento das mulheres, uma das pessoas afirmou peremptória que as mulheres empoderadas estão exaustas e começam a abdicar da carreira. Tinha ouvido num podcast e tratava-se sobretudo de mulheres com maridos ricos e que se transformavam em influencers nas redes sociais, conseguindo rendimentos altos mais rapidamente. Aqui chegadas uma delas disse, sem se rir, “não me importaria”.

Finalmente, a super protecção das crianças causadora de ataques de pânico “por tudo e por nada”, foi o culminar, pelo menos para mim, de uma conversa que decidi trazer para este espaço porque o mais assustador foi ter percebido que uma das pessoas trabalharia na área da gestão de pessoas numa qualquer organização. Qual o impacto que alguém com esta visão sobre temas que afectam a gestão de pessoas pode ter numa organização? É uma pergunta que vos deixo.

Por outro lado, uma das reflexões que penso ser importante fazer prende-se com a maneira como hoje se digere a informação que nos chega. Falar do que se ouve dizer sem pensamento crítico, sem curiosidade pela pesquisa de informação e tendo como referenciais o nosso umbigo, só pode dar mau resultado. Em muitos casos a génese da polarização de opiniões reside nessa atitude que me atrevo a chamar de leviana.

Com alguma frequência tenho observado nas organizações comportamentos que eliminam a possibilidade de existirem paradoxos, ou seja, a coexistência de duas ideias ou situações igualmente verdadeiras mas contrárias. Alguns exemplos: “ou sou firme, ou sou permissivo”; “ou sou franco e directo, ou sou diplomata”; “ou sou organizado, ou sou flexível”. O que pode acontecer quando escolhemos um dos polos é que talvez não consigamos manter esse comportamento quando estamos sob pressão. Se escolhi ser permissivo com a minha equipa e não tenho resultados, quando estes me forem exigidos vou querer mostrar firmeza e passo para o polo oposto. Ora, se essa não é a atitude habitual, o mínimo será a equipa ficar confusa e pensar, “saltou-lhe a tampa”. Muitas vezes escolhemos um dos polos porque não sabemos ser de outra maneira ou porque  temos receio do outro polo:  por exemplo “vou ser franco e rude porque foi assim que aprendi e não sei o que pode acontecer se mostrar diplomacia”, ou vice versa.

As boas notícias são:  é próprio do ser humano mostrar alguns desequilíbrios entre diferentes polos; é próprio do ser humano ser paradoxal como, de resto, todos os dias o mundo o comprova; e ainda, é possível termos consciência dos nossos paradoxos e aprendermos a equilibrá-los.

Bom regresso de férias!