Ainda existe silly season?

 Em Cultura de Empresa, Desenvolvimento, Liderança, Propósito

Aquela época do ano em que só circulam disparates e nada de importante acontece, a chamada silly season, ou estação tonta, em tradução livre, parece ter terminado. Não porque estejamos de regresso ao trabalho mas porque a silly season deixou de ser season e parece agora vigorar durante todo o ano. Basta darmos atenção ao que se passa no mundo, e à nossa volta. Por todo o lado há dirigentes que tomam regularmente decisões insanas e, também regularmente, as contradizem gerando aos poucos a normalização do disparate quando não da violência.

Mas de vez em quando, qual agulha em palheiro, temos boas notícias como a que tive oportunidade de receber através do Jornal PT50. Sobre os dados do emprego na zona euro afirmou a presidente do BCE, Christine Lagarde que, “entre o final de 2021 e meados de 2025, o emprego acumulado aumentou 4,1% – um acréscimo de 6,3 milhões de pessoas empregadas – enquanto o PIB real aumentou 4,3%”.

E quais são as razões para tal?

Por um lado, segundo CL, o automatismo que gerava aumento de salários indexado ao aumento da inflação foi quebrado, o que leva as empresas a contratar mais facilmente. Por outro lado há mais pessoas a trabalhar menos horas, “O aumento do emprego na zona euro foi acompanhado por um declínio na média de horas trabalhadas. A média mantém-se 1% abaixo do nível pré-pandemia, o equivalente a cerca de quatro horas a menos por trabalhador por trimestre, ou uma redução na mão-de-obra equivalente a aproximadamente 1,3 milhões de empregos a tempo inteiro.”

Ou seja, em vários setores, os salários reais sofreram uma quebra, o que permitiu às empresas aumentar os lucros e contratar mais pessoal. A vontade dos próprios trabalhadores em reduzir o número de horas de trabalho não implicou uma descida da produtividade. Convergência de interesses…Será?

Chegada a este ponto e de regresso à cidade, deparo-me com um animado grupo de empregados de uma qualquer empresa que almoçavam longamente, partilhando cenas de férias, de maneira algo histriónica devo dizer. “A pressa é inimiga da perfeição”, atirava uma das pessoas levantando o copo de vinho por terminar, enquanto outras se arrastavam para a saída. Ao que parece estas pessoas trabalharão menos horas, já quanto à produtividade fico com dúvidas e sim, sou a favor de menos horas não de trabalho efectivo mas de permanência no local de trabalho.

Uma pessoa próxima decidiu cancelar um contrato com uma operadora de telefones, que incluía telefone fixo, tv, internet e dois telefones móveis. Quis manter um dos números móveis e na loja onde se tinha dirigido garantiram essa possibilidade. Foi informada da data de cessação do contrato e disseram que entretanto receberia uma carta a formalizar a situação. Vou poupar-vos à saga que se seguiu após essa pessoa ter ficado sem telefone e depois de um périplo por diferentes lojas da mesma operadora. Mas o que é importante ressaltar é o facto de cada empregado ter entregue uma informação diferente para a mesma situação. Alinhamento nos procedimentos? Uma fantasia dos dirigentes. Produtividade? A do cliente seguramente foi baixa.

O que será necessário para que com tanto jargão corporativo como “visão”, “estratégia”, “compromisso”, “alinhamento com os valores da empresa”, “propósito”, “aposta nas pessoas” e etc., deixemos de nos deparar com uma realidade que nega o contrário? Existem soluções, claro que sim, e passam por definir standards de atendimento, treinar as pessoas, bla, bla, bla, mas  a rotatividade nestas  posições leva a uma quebra de investimento no treino e em vez de procurarem standards de excelência a exigência já só passa por ter quem aceite fazer o trabalho.

Quem sabe queiramos mesmo ser substituídos por robôs e possamos ficar a almoçar horas sem fim e a dizer disparates aos clientes. Só que por enquanto estamos numa era de transição entre o humano e o robô, o que me leva a mais um exemplo familiar nesta silly season, Acontece que se pode alugar uma carrinha para transporte de material de grandes dimensões numa loja de mobiliário, por via de uma aplicação. A pessoa usa a aplicação, segue até à viatura e tem uma série de comandos para abri-la e pô-la em funcionamento. Só que tal não acontece, pois parece que a falta de manutenção dos referidos veículos não o permite. É nesse momento que queremos um humano que nos atenda, uma vez que a dita aplicação não tem solução para o ocorrido. E no final de um dia perdido, esse humano digna-se a resolver a situação.

Pesado tudo isto, continuo a acreditar que as pessoas quando são bem tratadas e ouvidas, dão o seu melhor.