O que se passa entre a geração X e a Y?
É curioso como, ao contrário do que possamos pensar, o maior choque que a geração Y – a dos chamados millennials – tem nas empresas, não é com aqueles que já estão muito perto da reforma, mas com a geração X, os que estão na faixa dos 40 anos. São estes que os lideram e que estão sob uma enorme pressão para obterem os resultados exigidos pelas administrações e pelos accionistas. São estes que têm de acompanhar as tendências reveladas pelos inúmeros estudos acerca do que querem os millennials e que têm de saber como atrair e fixar o talento nas suas equipas. A geração X pode ser olhada como o “fiambre da sanduíche”, pressionados pela hierarquia e pelos que de si dependem.
A grande diferença entre uns e outros, de que me tenho apercebido nestes últimos anos, é que para a geração X a carreira profissional assume uma importância que a define como prioritária na sua vida, enquanto que para a geração Y o trabalho é apenas uma parte das suas vidas. O tão falado equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal tem mesmo de acontecer. Eles querem ter tempo para construir uma família e naturalmente dedicar-se a ela, querem viajar, depois dos primeiros horizontes rasgados pelo Programa Erasmus, ao mesmo tempo que ambicionam um trabalho com propósito, integrados numa equipa com uma atmosfera cool e com uma remuneração justa.
Parece que querem tudo? Querem. É possível? É. Como? Se os accionistas permitirem que as estruturas das empresas sejam menos “espremidas”, ou alargando um pouco as equipas, ou diminuindo a pressão sobre elas. Em qualquer dos casos parece que o resultado pode ser a diminuição de dividendos. Mas existe outra curiosidade: a maneira como os millennials trabalham e se organizam também é muito diferente da da geração X, permitindo-lhes fazer mais em menos tempo, muito por força do partido que retiram da tecnologia que é necessariamente muito mais potenciada do que quando utilizada pelas gerações anteriores. Ou seja, se forem ouvidos, consultados e bem liderados, os resultados aparecem mesmo com todo o rol de exigências que trazem consigo.
Ora, quando leio que uma grande empresa portuguesa faz um investimento na sua operação logística gigante, que implica entre muitos outros números, um serviço de creche e infantário, gratuito, para cerca de 80 crianças até aos 5 anos, a funcionar de segunda a sábado das 6h45 às 19h, pergunto: quem vão conseguir atrair e fixar? naturalmente, pessoas que são obrigadas a aceitar qualquer tipo de trabalho e que são pouco qualificadas. Claro que a referida operação, funcionando 24h por dia, tem um regime de trabalho por turnos e não acredito que as crianças permaneçam na creche 12h por dia. Mas fico a pensar se ainda assim se trata de uma escala humana.
No meu livro Era uma vez um talento, menciono Klaus Mogensen quando coloca a questão, “Como vamos ganhar dinheiro no futuro?” e os quatro cenários que desenha. Um deles prevê uma elite em cada indústria a quem não é difícil contratar desempregados que necessitam de sair da pobreza. Mas KM também acredita que os poucos que criam riqueza, hoje sobretudo através da automação e que conseguem grandes fortunas, poderão assegurar que todos ganham com o desenvolvimento. E para isso é necessário manter condições para atrair pessoas, ainda que menos qualificadas, que possam adquirir o tal equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Utópico?