Pare, Escute e Olhe

 Em Formação

Lembra-se de quando foi a última vez que escutou até ao fim a resposta a uma pergunta que fez? E de quando  atendeu ou fez um telefonema sem estar a distribuir a sua atenção por meia dúzia de outras tarefas? Qual foi a última reunião em que participou sem deitar um olhar ao seu smartphone? Quantas vezes lhe aconteceu um cliente falar-lhe do que precisa e a sua mente vaguear em modo ” como é que vou resolver isto?” E o seu filho? Tem toda a sua atenção de cada vez que quer a sua resposta a uma pergunta simples?

Os estímulos e as solicitações a que hoje estamos sujeitos, muito por força da tecnologia que imprimiu uma velocidade assustadora ao quotidiano de trabalho e da vida em geral, criam-nos uma pressão e um sentido de urgência que podem ter resultados muito negativos. A perda de qualidade naquilo que se faz e a fadiga extrema e crónica, são alguns deles.

Sem querer entrar pela via do equilíbrio entre vida profissional e pessoal, conceito que tem gerado – na minha opinião – muitos mal entendidos, acredito que a pressão e o sentido de urgência somos nós quem os impomos a nós próprios.

Como é que fui levada a adoptar esta crença? Simples: para chegar do meu escritório a uma empresa minha cliente, era meu hábito ficar enervada com o trânsito por, naturalmente, querer ser pontual. Um dia, decidi fazer esse trajecto à mesma hora mas sem ter qualquer reunião marcada. Parei em todos os semáforos laranja, dei passagem a todos os peões, facilitei manobras de outros condutores, enfim, tinha todo o tempo de mundo. O que é que aconteceu, para além de não me ter enervado? Cheguei à mesma hora.

“É mais fácil de dizer do que fazer”, “Não sabe a vida que tenho”, “Isto é muito bonito aqui mas quando vamos lá para fora a vida engole-nos”, são frases que escuto com frequência. E se depender mais da imagem que queremos transmitir para o exterior? Tenho receio de perder importância aos olhos dos outros se não tiver uma vida agitada? Tenho receio de que deixem de contar comigo se não dou resposta imediata? Tenho receio de dizer Não porque o faço sem controlo emocional?

É verdade, como comecei por escrever, que o ritmo de hoje não é o ritmo de há 10 anos, é verdade que a nossa atenção está muito mais distribuída do que concentrada, mas há momentos na vida, profissional ou pessoal, que exigem a nossa presença inteira. Mesmo que por vezes uma das vidas seja penalizada.

O que é isto da presença inteira? É estar ‘aqui e agora’. Difícil? Sim. É mais ou menos como comer um elefante. Tem de ser aos bocados. Experimente hoje 2 minutos de atenção plena ao que um colaborador lhe diz, 3 minutos amanhã com outro, 5 minutos depois de amanhã com um cliente.

Se vai de férias, aproveite para treinar. Os amigos ou a família vão agradecer-lhe e vai realmente descansar. Para além de que os hábitos só se criam com treino.

Boas férias!