Formar para quê?

 Em Formação

Imagine-se alguém que, com uma licenciatura em gestão, sempre trabalhou em empresas fabris na área financeira e que fica desempregado. Ultrapassou os 50 anos. Percebe que não terá oportunidades de emprego tradicionais e que tem de se ‘fazer à vida’. Pensa em actuar na área da contabilidade e começa a divulgar a sua oferta junto de gabinetes da especialidade e de pequenas empresas. Sem perfil comercial, a que se junta a falta de ânimo, as dificuldades começam a surgir. Os encargos financeiros que é obrigado a suportar, levam-no a aceitar a oferta de um curso de formação do Centro de Emprego que lhe dá direito a uma bolsa, subsídio de refeição e de transporte. No CE, é-lhe proposto o curso de Higiene e Segurança no Trabalho. Ainda pergunta se existe alguma formação dentro da sua área de especialidade. O curso de HST é o mais próximo das suas qualificações, é a resposta que obtém.

O que vai fazer uma pessoa –  com estas características – depois de uma formação em HST, é para mim um mistério. Mas há uma certeza que tenho: esta maneira de ocupar as pessoas e de arredondar as estatísticas do emprego, é um grande desperdício. E que não é de agora. Assistimos, com a entrada de Portugal na UE, à entrada de fundos para formação profissional que não tiveram retorno significativo, como ainda hoje se comprova.

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É sabido que um dos problemas do desemprego em Portugal, e arrisco a dizer no mundo, é o desfasamento entre as qualificações existentes e as qualificações que são necessárias no mercado actual. Numa era em que a digitalização da indústria é uma realidade – e sem querer retirar importância à higiene e segurança no trabalho, mas questionando se o mercado está assim tão carente dessa disciplina, parece-me que está na altura de o Instituto de Emprego e Formação Profissional rever os seus planos de formação e ajustar-se ao mercado e ao futuro.

O sector privado, quando compra formação a entidades certificadas pelo IEFP, faz contas ao retorno do seu investimento. E esse retorno é medido pelo aumento de resultados. O retorno de um investimento que é público não pode ser medido por dados estatísticos irreais. É preferível uma realidade virtual.