Cozinhar a equipa

 Em Colaboração, Desenvolvimento, Planeamento e Gestão de Prioridades

O desafio do cliente era estimular a criatividade e o improviso, conseguir o orgulho colectivo que pode unir as pessoas após mudanças significativas numa actividade que constituísse um momento de celebração. A proposta foi um jantar para meia centena de pessoas, aparentemente improvável, apesar de planeado, confeccionado e apresentado pela equipa de oito pessoas.

Os riscos estavam calculados de acordo com experiências anteriores mas o momento era sobretudo de aprendizagem: planeamento insuficiente com tempos subestimados para a ambição, desafios logísticos, espaço de cozinha limitado, conflitos internos, alguma desmotivação  e… coordenar 50 refeições quentes em simultâneo.

Fomos surpreendidos pela confiança inicial. A equipa chegou entusiasmada: “É só cozinhar mais quantidade, fácil!”, diz alguém habituado a cozinhar para meia dúzia de amigos na sua própria cozinha. Alguém decide fazer um menu ambicioso: entrada, prato principal e sobremesa. Ninguém pensa muito nos tempos de cozedura, no espaço dos fornos ou na logística de servir tudo quente. Além disso é preciso fazer compras com um orçamento pré determinado.

Passadas duas horas o caos reina na cozinha onde  percebem que têm apenas um forno pequeno, duas panelas grandes e uma bancada apertada. Dois estão a cortar cebolas e choram como se estivessem num velório. Outro tenta ligar a batedeira mas descobre que não há tomada livre. Um voluntário decide “fazer arroz para 50”… numa panela onde cabem 15 doses.

Depois de perceberem que as receitas no papel não se comportam da mesma maneira em panelões reais, começa a improvisação criativa. O molho fica aguado, o frango não cabe na assadeira, e a sobremesa não solidifica a tempo.
A solução? Inventam: dividem as carnes em várias fornadas, transformam a sobremesa num cocktail líquido e dão nomes gourmet: “Arroz de autor em versão contemporânea” (um pouco cru no meio), “Salada desconstruída” (porque não tiveram tempo de misturar).

O pânico pré-jantar manifesta-se quando se percebe que os talheres não são suficientes. A toalha de mesa é improvisada com rolos de papel pardo. Um dos cozinheiros está com molho de tomate na camisa, outro queimou o dedo. A equipa percebe que servir 50 pratos quentes ao mesmo tempo é missão impossível e decide que vai ser buffet.

O jantar começa com os convidados (outras equipas) que  chegam animados. Apesar das falhas técnicas: o frango está um pouco seco, mas “bem temperado”, o arroz tem zonas al dente, mas “fica rústico” e a sobremesa  líquida vira “shot de sobremesa” e faz sucesso inesperado. Entre gargalhadas e explicações sobre os “conceitos culinários experimentais”, os convidados percebem que não foram apenas para comer, mas para viver uma experiência única.
A equipa, cansada e tapada de nódoas,  pensa: “Nunca mais aceitamos isto… mas que orgulho em termos conseguido!”.

O que levaram para o quotidiano da empresa?

O planeamento é fundamental: improvisar pode ser divertido mas para grandes desafios é preciso preparar, dividir tarefas e prever imprevistos. A comunicação precisa de ser clara: o caos da cozinha mostra que se não houver alinhamento (“quem faz o quê e quando”), tudo se atropela. A flexibilidade e a criatividade são necessárias quando o plano A falha (e falhou várias vezes) sendo necessário adaptar e inventar soluções.

E o que dizer dos momentos de tensão que podem levar a culpas e discussões? colaboração vs. competição, se a equipa colabora o resultado é mais leve. Aprender a lidar com limitações (espaço, tempo, utensílios) e a otimizar o que se tem:  a gestão de recursos foi mencionada como aprendizagem.

Onde ficaram as emoções?

Foi um desafio para o perfeccionista aceitar que não ia sair perfeito e continuar em frente sem desistir. Será que vai aumentar a sua tolerância à frustração?

A gestão do stress foi diferente e tornou-se consciente para cada um: uns ficaram acelerados, outros paralisaram, outros fizeram piadas para aliviar a tensão. A tolerância ao erro levou a  manter o espírito e a entregar algo no fim.

Finalmente a valorização do esforço coletivo e a alegria com o inesperado.

O papel do facilitador? canalizar a energia para a colaboração e não para o conflito.