As armadilhas da vulnerabilidade
Em duas ou três situações em que mostrei a minha vulnerabilidade em meio profissional as coisas não me correram bem. Recordo-me de uma reunião com um potencial cliente, antecedida de um assalto a que fui sujeita, reunião em que partilhei o sucedido. Não obtive o contrato que esperava. Lembro a primeira entrevista quando procurava o meu primeiro emprego. O entrevistador referiu que me tinha convocado porque ao ver no currículo a minha morada achou graça porque tinha habitado no andar ao lado. Eu corei, a entrevista não correu bem e fiquei sem o emprego. E lembro-me de ir para uma reunião com outro potencial cliente, de Lisboa para o Porto, e de ter tido um acidente de viação que me destruiu o carro. Depois de ter feito as diligências necessárias para o socorro, telefonei ao cliente para informá-lo que tinha tido um percalço, que chegaria bastante depois da hora marcada e a perguntar se ele me poderia ainda receber. A reunião manteve-se, tive tempo para me recompor durante o resto do percurso, apresentei desculpas e agradeci por ser recebida, não partilhei o sucedido e ganhei o contrato.
Vem isto a propósito de nos últimos tempos, e em particular para as mulheres que ocupam posições de liderança, a vulnerabilidade ter passado a ser considerada uma soft skill. A vulnerabilidade tornou-se uma força.
Ao ler um excelente artigo sobre o tema, The Line Between Vulnerability and Oversharing, confirmei mais uma vez que a banalização das palavras as despe de sentido e as torna perigosas, sobretudo quando a abordagem não é cautelosa.
O artigo, que é uma recensão ao livro de Moe Carrick, Bravespace Workplace: Making your Company Fit for Human Life, fala nas armadilhas da vulnerabilidade que incluem o desvio para o narcisismo, para a falta de autenticidade e a procura de pena. Quando a vulnerabilidade põe a enfase nos sentimentos do líder por oposição aos da equipa a linha é ultrapassada.
A liderança é acerca da condução da equipa na direcção que foi traçada, a equipa procura essa condução. Então a vulnerabilidade é acerca da coragem para fazer face à incerteza, ao risco e à exibição da emoção. O que acontece é que muitas pessoas em vez de sentirem o desconforto dessas situações se deixam ir sem pensar nas consequências.
Algumas mulheres em posições de liderança praticam-na em conflito entre a emotividade e a dureza, entre o que tradicionalmente se atribui a uma liderança feminina ou a uma masculina. A autora sublinha que há que ser forte mas não dura, amigável mas não parva. A liderança madura implica assim aceitar o desconforto de uma decisão ou situação que nos pode tornar vulneráveis.
Segundo Moe Carrick há uma reflexão a fazer na partilha da vulnerabilidade: qual é a intenção da partilha? Criar conexão profunda, criar confiança e ser leal com a equipa. Mas para isso é preciso continuar a ser o pivô da acção. Chorar não é opção!
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