Como criar um impacto real numa gestão virtual

 Em Coaching, Cultura de Empresa, Desenvolvimento

Logo a seguir ao primeiro confinamento uma cliente que estava então a acompanhar num programa de coaching e que lidera directamente uma dezena de pessoas na empresa em que trabalha, tinha na agenda um encontro com toda a sua equipa com o objectivo de criar coesão entre as pessoas numa altura difícil. Acontece que surgiram alguns casos de infecção na empresa, embora não na sua equipa, e um sentimento de receio justificado veio deitar por terra o dito encontro. Após termos feito uma reflexão curta à volta de alternativas para criar coesão remotamente, o encontro realizou-se online e foi um sucesso.

Um outro cliente também num programa de coaching e que acaba de integrar uma nova empresa fora de Portugal, vai dirigir uma equipa cujas pessoas são de diferentes nacionalidades o que, não sendo uma novidade para si, nos levou a uma reflexão acerca de como criar laços com pessoas que só conhece virtualmente, situação que se manterá por mais algum tempo. Esta pessoa acaba de ter uma entrada virtual numa nova empresa.

Se no primeiro caso estávamos ainda no início da aprendizagem e da adaptação a novas maneiras de trabalhar, agora que a pandemia não dá tréguas, sabemos que não voltaremos atrás e que os métodos que encontrámos só precisam de ser aperfeiçoados e que, quem sabe, tenhamos ainda de ser surpreendidos com outras abordagens. O segundo caso testemunha isso mesmo.

Definitivamente as empresas têm de encontrar métodos diferentes para juntar as equipas e criar a coesão. Há pouco tempo a The Economist perguntava que qualidade iriam os líderes enfatizar em 2021, para logo de seguida responder: trabalhar em equipa.

Muitas empresas têm-no conseguido, aquelas cujas práticas de gestão de pessoas já integravam a excelência e que conseguiram ter o seu capital humano mobilizado para fazer face àquilo que nunca imaginaram. No fundo, é como se tivessem reservas de um capital que inclui boa comunicação, entreajuda, resistência a dificuldades, motivação para ultrapassar obstáculos. Como sabemos, as reservas são isso mesmo e consomem-se. Mais uma vez, como refere a The Economist, em 2021 vai ser preciso repor o nível e para isso reenergizar as equipas.

E o que fazer com novas equipas, como no segundo exemplo que referi? Uma coisa é passar a gerir remotamente uma equipa que se conhece, outra é gerir remotamente uma equipa com a qual nunca houve contacto presencial.

O mercado continua a mexer e os movimentos de carreira acontecem. O que se acentuou neste momento com a construção de equipas distribuídas pelo mundo é também a possibilidade de os melhores talentos serem recrutados em qualquer lugar do mundo sem os constrangimentos inerentes à localização dos escritórios. Esta vantagem traz também um enorme desafio para a cultura de uma organização. A colaboração entre pessoas, mais necessária do que nunca, terá de ser fomentada virtualmente.

Se a experiência do recrutamento virtual já vem acontecendo, pelo menos em algumas fases do processo, até desde antes da pandemia, novos métodos estão a ser gerados para a experiência do colaborador dentro da organização, a começar no acolhimento. Como enriquecer o acolhimento de um novo empregado nesta época? E se já são comuns os encontros virtuais de sexta-feira à tarde para descontrair e para colmatar a falta dos intervalos na copa física, em que colaboradores de diferentes áreas podiam trocar impressões, é preciso precaver que as pessoas não fiquem limitadas à troca de ideias só com aqueles que fazem parte da sua equipa, que, por exemplo, a equipa comercial deixe de ter contacto com quem produz. É necessário mais do que nunca evitar que surja – ou que se reforce – o espírito do “nós” e “eles”.

Neste contexto, também a formação e o desenvolvimento dos colaboradores estão sujeitos a enormes alterações e o coaching individual ou de equipa emerge como uma ferramenta poderosa.

Estas alterações, que são profundas, exigem uma liderança que saiba equilibrar a produtividade e a comunicação. Que saiba encontrar o ponto de verdadeira conexão com cada um dos seus colaboradores, que seja capaz de ver o mundo ao contrário. Para isso um líder tem ele próprio de encontrar a posição que lho permita.

Publicado no Jornal Dinheiro Vivo digital de 6 de Fevereiro 2021