A burocracia do CV
Em conversa recente com o CEO de uma empresa, perguntava-me ele: “Qual é a sua opinião acerca do formato europeu para um CV?”. Há dias, no intervalo de um workshop sobre liderança, um dos participantes fazia-me a mesma pergunta para logo de seguida se instalar uma discussão em que todos eram unânimes acerca do aborrecimento que é receber um CV em formato europeu. “Ah, mas algumas entidades exigem-no”, dizia alguém.
Quero acreditar que empresas do século XXI dificilmente exigirão um formato de CV que é o espelho da rede burocrática que caracteriza tantas entidades europeias, para não dizer a própria Europa, onde tudo foi calibrado. Não, enquanto recrutadora não considero o formato europeu de CV apetecível: é confusa a arrumação do percurso profissional do candidato e convida a que todos nomeiem acerca de si próprios as mesmas competências com termos banalizados, logo, destituídos de sentido.
Como já escrevi anteriormente, hoje é muito difícil que um recrutador leia um currículo com mais de duas páginas e para isso é necessário que na primeira haja alguma coisa que chame a atenção. E não estou a falar da formação académica, nem dos “objectivos de candidatura”. Importante é que um candidato conheça o seu valor e o saiba transpor para um currículo com exemplos concretos de como a sua função teve impacto nos resultados da organização ou seja, que descreva resultados e não a função. As probabilidades de receber um telefonema ou email para ir a uma entrevista aumentam.
Aquilo que queremos saber acerca de um candidato não está no papel e a tendência é cada vez mais os recrutadores entrevistarem os candidatos sem recurso ao CV. Também já relatei a experiência, descrita num artigo da HBR, do CEO que se sentou na sala de espera ao lado de uma candidata e começou a conversar com ela fazendo perguntas abertas, às quais ela foi respondendo aparentemente sem saber que se tratava do representante máximo da organização. Embora como técnica de entrevista me pareça de ética duvidosa, o certo é que as entrevistas e os seus suportes já não são o que eram.
Quando encontrar talento e conseguir atraí-lo é o mesmo que encontrar agulha em palheiro, também a maneira de entrevistar obedece a novos formatos. E duvido que sejam europeus.