Com António Castro Freire – Deputy Chairman do Grupo Bensaude
- Qual o seu estado de espírito actual?
O estado de espírito traduz uma crescente esperança na retoma de uma vida económica e social menos conturbada. Acredito que o momento seja para escrutar o horizonte, olhar mais decididamente para o futuro, retomar projectos interrompidos ou adiados, reflectir e analisar as tendências emergentes, ponderar o seu impacto na vida pessoal e profissional.
- Qual o seu maior receio neste momento?
Permanece o receio da pandemia e dos seus efeitos nos familiares e amigos mais próximos, mas também nas perturbações que dela decorrem, em termos de saúde e de disrupção, nas empresas a que me encontro associado. O que vivemos nestes últimos 2 anos cria, igualmente, alguma ansiedade agravada pelo receio que venham a surgir novas situações críticas, em termos de saúde publica.
- Qual a maior extravagância que por estes dias lhe apetece fazer?
Pensando de forma diferente, ao percorrer este longo período de abalo da vida coletiva, desafia o nosso pensamento, os nossos valores, os nossos projetos. Uma extravagância, que oxalá se possa transformar num ato concreto, seria de colaborar numa fundação com objetivos transformativos e solidários. Alguns exemplos em nosso redor, embora com enquadramentos mais folgados, são desafios que nos convocam quando os nossos pressupostos de vida são questionados.
- Qual a frase/expressão que mais tem utilizado ultimamente?
“Venha o tempo de nos podermos abraçar”.
- Fez alguma descoberta acerca de si próprio durante o confinamento?
Durante o confinamento, acentuou-se a vontade de dedicar mais tempo ao balanço da vida que já vai longa. Gostaria de dedicar tempo e reflexão a um projeto de escrita à volta dos marcos principais das minhas quase 7 décadas de existência e de celebrar o muito que recebi, ao longo das diversas etapas já percorridas. Sinto-me privilegiado por tudo o que me tem sido dado a viver e a conhecer. Privilegiado pela família mais próxima que me acompanha e pelos amigos, na sua diversidade, que me dão alento e alegria em viver e em trilhar o meu caminho.
- Fez alguma descoberta acerca dos que lhe são próximos durante o confinamento?
Dos que me são mais próximos, descobri a sua preocupação com o estado de saúde dos seus pais. Gestos quotidianos a que não estava habituado. Maior presença e mais atenções. Ao mesmo tempo, realizei que no meu círculo de amizades coexistem formas bem diferentes de enfrentar o desconhecido. Verifiquei uma clara separação entre aqueles que se adaptaram a este período disruptivo com serenidade e resiliência, enquanto outros tantos acabaram por entrar numa fase de retração social, próxima da depressão.
- Qual tem sido a sua ocupação favorita?
Neste período, o trabalho continua a ser o pilar mais estável do quotidiano. Leituras diversas enriquecem o dia a dia. Muitas caminhadas, quando o tempo o permite. E, ainda, a descoberta do manancial com que as plataformas televisivas nos estimulam ou divertem.
- Se tivesse mais uma vida o que faria com ela?
Mais uma vida: que sonho! Tentaria ser mais ambicioso no domínio do conhecimento, dedicando mais tempo, energia e ambição à aprendizagem científica e ao estudo do ser humano, em particular no domínio da filosofia.
- O que gostaria que fosse diferente depois do Covid 19?
Espero que se verifique uma maior recentragem no que é mais essencial e na fraternidade humana, algo que infelizmente os acontecimentos mais recentes no país e no mundo parecem desmentir. Gostaria também que o meu dia abarcasse reforço mais energia vital para me dedicar ao exercício físico, à leitura, à descoberta da criação artística, ao convívio com os amigos e com a família. Ou seja, um pouco mais e melhor do que já tenho tido a sorte de ensaiar. Que o mundo caminhasse para menos conflitualidade e maior cooperação de forma a preservar a vida no planeta.
- O que gostaria que se mantivesse?
Que se mantivesse e se multiplicassem as oportunidades de interação com outrem. No plano profissional, sem descurar as vantagens do teletrabalho, saber construir mais pontes para atacar os desafios do mundo em mudança acelerada, em diálogo e em equipe. No plano pessoal, continuar, senão intensificar, o contacto, o convívio e a fortaleza que são as relações com os que me rodeiam.
- Qual a sua fonte principal de notícias actualmente?
Vejo diariamente notícias pela televisão e pela internet. Conjugo também as fontes de informação nacionais com as internacionais, principalmente inglesas, americanas, francesas e belgas, neste último caso por ser casado com uma mulher belga e por residir parte do meu tempo nesse país.
- Que livro recomendaria nesta altura?
Tenho estado a ler “Era uma vez Jorge Sampaio”. Este livro, construído a partir de contributos por parte de um conjunto diversificado de homens e mulheres que se cruzaram com Jorge Sampaio ao longo da sua vida de homem e de político, é inspirador pelos valores que transporta: de coragem, de visão, de justiça, de sentido ético, de humanidade, de humildade, de sentido de humor, de aceitação do outro e de dedicação a causas que nos dão fé na humanidade.
- Qual foi o último espectáculo a que assistiu (cinema, teatro, concerto…)?
O último filme que fui ver foi o “Don’t Look Up” (Não olhem para cima). Foi uma escolha do meu filho mais novo. Nestes tempos em que o conhecimento científico alimenta controvérsias em sociedades mais permeáveis à superficialidade e a alguns nefastos efeitos das redes sociais, este filme oferece-nos um olhar perturbador sobre aspetos menos positivos da evolução dos comportamentos humanos e dos riscos associados.
14. Qual a sua próxima viagem de sonho?
Tenho sonhado com várias: Itália pela cultura e requinte, Escócia pela natureza e mistério, Costa Rica pelo mundo animal e pelas paisagens. Poderia enumerar mais uns quantos “sonhos”. Dependendo do regresso a uma maior liberdade de movimentos, será talvez a Escócia.
- Qual a sua banda sonora para estes dias?
Tenho ouvida música dos meus anos de juventude: “Oldies”. De artistas mais recentes, Angelique Kidjo.