A moda do digital detox
Recentemente, num velório, assisti a um momento que me trouxe até esta reflexão. Algumas das pessoas (sim, no plural) faziam, sem menção de disfarce, scroll nos respectivos telemóveis enquanto acompanhavam o corpo. É claro que se fazemos isso enquanto acompanhamos os vivos porque não com os mortos? Imagino que possa ser esse o “irracional” para tal comportamento.
O que é que leva a esta compulsão de ver mensagens, mails, facebook, instagram, linkedin e outras aplicações, numa situação de recolhimento? Parece haver, de facto, quem esteja viciado. E provavelmente já todos experimentámos essa compulsão em momentos inadequados – só que algumas pessoas são capazes de controlar os seus impulsos e outras não.

Perante esta realidade, começa a surgir uma indústria do digital detox com programas dos mais simples aos mais sofisticados, em retiros e spa’s, que obrigam a que os aparelhos fiquem à porta. Esses programas, que algumas empresas hoje oferecem aos colaboradores (provavelmente depois de terem contribuído para o vício), implicam a reconexão consigo próprio e com os outros, períodos de meditação, de yoga, de jejum alguns deles, durante um fim de semana ou mais dias. Parece que é habitual passado algum tempo, na voragem dos dias, haver recaídas.

Entretanto, tropecei num artigo interessante de Al Jones, um ex-oficial dos Royal Marines, que fala da sua experiência pessoal enquanto viciado no ecrã desde o acordar, passando pelo adormecer, até à insónia, e de como conseguiu sair de uma situação de quase burnout. Como sempre, tudo começou pela tomada de consciência do problema, quer para a sua saúde quer para o relacionamento real com os outros, e sobretudo pela vontade de mudar.
No artigo, que pode ler aqui, há uma pergunta poderosa: “E se em vez da necessidade de estar sempre ligado, puder vir a ficar confortável com a ideia de desligar periodicamente?” Ou seja, pense sobre o que o desconforta se não estiver ligado: tem medo de perder algo, de não fazer parte de alguma situação extraordinária, é porque se sente só, é porque o mundo pode acabar se não responder instantaneamente aos mails e mensagens da chefia ou até dos clientes?
E há ainda uma verdade que o autor revela: “Quando joga contra si próprio sairá sempre vencedor”.