Será o luto um novo indicador de desempenho nas empresas?

 Em Coaching, Cultura de Empresa

Como estão as organizações a viver as suas perdas após um ano de pandemia e de dois confinamentos de meses? Por força desta situação, algumas empresas já viveram a morte de algum colaborador ou a angústia de internamentos de outros – e há que contar ainda com a perda daqueles que foram despedidos. Além destas situações, que são as mais graves, atente-se na alteração profunda nos hábitos do quotidiano que desapareceram: a pausa para o café ou almoço com colegas de trabalho, as reuniões presenciais, as viagens de trabalho, quem sabe até algum romance que tem de encontrar novo terreno; do outro lado contabilizem-se os negócios que se perderam, os fornecedores que já não fornecem porque foram obrigados a encerrar, o restaurante das proximidades que não reabre.  A lista pode com certeza continuar.

Quando olho para o que se passa ocorre-me o luto. Sim, o luto. As organizações são feitas de pessoas e o luto não é exclusivo da perda de alguém que nos é querido na privacidade. Pode surgir com a perda de hábitos, com mudanças de funcionamento. É claro que pode haver ganhos positivos nalgumas perdas – e um dos que mais tenho escutado, sobretudo por aqueles cuja posição os obrigava a viver entre aeroportos e diferentes fusos horários, é a ausência de viagens. Muitos negócios transformaram-se e alguns conseguiram maior agilidade nos processos de trabalho, o trabalho remoto de que tanto se falava e que parecia exigir equipas de projecto num esforço ciclópico para o tornar uma realidade, foi criado numa semana.

Mas quem é capaz de afirmar que está hoje no seu melhor desempenho? Um processo de luto obriga-nos a passar por diferentes etapas: a negação que nos pode ajudar enquanto processamos a realidade (nada disto está a acontecer, continuemos business as usual), a raiva que serve para expelirmos o que é desagradável (o descontrolo emocional causado pela pressão da chefia no momento em que o filho pede ajuda para o trabalho da escola e o cônjuge está ao lado noutra call), a negociação que acontece quando damos asas à imaginação para encontrar estratégias que nos ajudem a aliviar os danos (vamos criar novos produtos, vamos reunir a equipa numa plataforma para celebrarmos um negócio que chegou ou simplesmente para aliviar a tensão), a depressão que nos leva a questionar se alguma vez as coisas vão ser diferentes e a aceitação quando deixamos de resistir à realidade (vamos ter que aprender a viver com a situação). Estas etapas – como facilmente se percebe – não se sucedem assim arrumadas nas pessoas, podem coexistir e sobrepor-se e a tristeza pode continuar presente. Uma das exclamações mais ouvidas por estes dias quando se pergunta a alguém como está – e que inclui os optimistas – é, “uns dias melhor do que outros”.

Algumas empresas estão conscientes de que a maneira como cada um está a viver este luto é um novo indicador a ter em conta nos seus resultados. Há que oferecer às pessoas a possibilidade de estarem bem com o facto de não estarem bem e apoiá-las para encontrarem a melhor maneira de passarem pelas diferentes etapas deste luto colectivo sem se fixarem em nenhuma delas. Quando isso acontece ganha-se esperança no futuro. A pandemia coloca-nos perante a necessidade de dar respostas a situações novas. Esse é o nosso novo dia-a- dia.