Quem é o primeiro a desconectar-se?

 Em Cultura de Empresa

Acordo todos os dias às 6:30 da manhã, tomo um bom pequeno almoço, vejo emails e redes sociais, faço compras e pagamentos e antes de chegar ao ginásio às 8:30 já troquei alguns sms, ou telefonemas de trabalho, ou conversas via Skype com os matinais como eu. Entre as 19:00 e as 20:30 posso ter telefonemas de trabalho (muitas vezes é a hora a que alguém com quem quero falar, pode falar comigo). Faço o que gosto, presto contas a mim própria, há períodos em que o trabalho se confunde com a vida e por isso não me queixo.

A tecnologia e a globalização já criaram um mundo ligado 24 horas, 7 dias por semana, como refere Lynda Gratton. Hoje, um gestor que tenha equipas dispersas por diferentes geografias mundiais está praticamente conectado sem interrupção e pode passar uma grande parte da vida em aeroportos. Há muita coisa que se está a perder e o propósito do trabalho, é uma delas.

Vem isto a propósito da mais recente lei do Código do Trabalho francês, que prevê o direito dos trabalhadores a ignorarem os contactos das entidades empregadoras fora do horário de trabalho. Um comportamento que começou por ser tido como natural, os colaboradores das empresas poderem ser contactados em qualquer altura, e podemos imaginar, ou até já vivemos alguns desvarios, passou a ser regulado. É como tudo na vida. Surge algo de novo – a possibilidade de estarmos todos em contacto a todo o momento – não existem barreiras porque se trata do desconhecido e criam-se comportamentos abusivos. A coisa vai em crescendo, perde-se a sensatez e aparece o legislador. Aparentemente, este até foi sensato uma vez que a escolha de se manter conectado ou não, é do trabalhador. Resta esperar para ver qual é a escolha de quem governa as empresas.

Para reencontrar algum equilíbrio, mais uma vez o exemplo tem que vir de cima: se o accionista continuar conectado com o administrador às 21:00, talvez este sinta necessidade de continuar conectado com a sua equipa de gestão às 22:00 e esta talvez sinta necessidade de pressionar os seus colaboradores mais próximos  com um email às 4:00 e… já todos conhecemos o efeito cascata.  Quem será o primeiro a desconectar-se?