Pode haver despedimentos perfeitos?

 Em Cultura de Empresa, Employer branding

Aqui vamos nós outra vez: o desemprego aumentou e já todos percebemos que irá continuar a aumentar em todo o mundo. Nada de novo, apenas uma aceleração do que já se previa – originada por um vírus – com a tecnologia a tornar irrelevantes muitos postos de trabalho. No nosso país, cujo tecido empresarial é, como sabemos, constituído maioritariamente por pequenas e médias empresas e em que o sector do Turismo foi a fonte principal de emprego, a situação é dura.

Como despedir, é agora a questão. No meio do caos existirá um manual de regras de bem despedir? Lembro-me do filme Up in the air, em português Nas Nuvens, em que Ryan Bingham (interpretado por George Clooney que não tomava nespressos)  era contratado pelas grandes empresas americanas para despedir os seus empregados com uma frieza resguardada em luva de veludo. Não, não era a boa maneira de fazer as coisas, sobretudo porque os CEO não davam a cara e em vez disso contratavam um intermediário.

Deparei-me agora com um artigo que pode ler aqui e que menciona a carta que o CEO da Airbnb, Bryan Chesky, escreveu a todos os seus colaboradores quando, na sequência da pandemia, se viu obrigado a despedir 25% da força de trabalho da empresa. Algumas das medidas que adoptou serão motivo de espanto nos Estados Unidos da América onde a regra é despedir de um dia para o outro e a imagem que temos é a de um empregado agarrado a uma caixa de papelão com os seus pertences lá dentro. Felizmente em Portugal, além do que a lei estipula, permitir que o colaborador fique com o laptop ou oferecer um programa de outplacement, já não é uma novidade.

O que é motivo de registo é a vulnerabilidade, para utilizar uma palavra que o meio empresarial está lentamente a adoptar,  que Bryan Chesky mostrou aos seus empregados, assegurando em primeiro lugar que eles não se sentiriam os culpados por serem despedidos. Sabemos como é fácil isso acontecer: “as suas competências não são suficientes”, “precisamos de pessoas mais novas”, “o seu salário é dos mais elevados”, enfim o problema recai exclusivamente no colaborador. No caso da Airbnb o problema terá sido a situação criada no sector em que opera  que obrigou o seu CEO a despedir e isso foi assumido perante todos.

Providenciar instruções claras e transparentes foi outra das preocupações e só quando todos os detalhes puderam ser descritos é que a comunicação foi feita. Mesmo assim, BC não se julgou o mais inteligente de todos e foi à procura de saber o que pensavam os clientes e os colaboradores acerca da sua decisão. E revelou qual tinha sido o seu processo de decisão. Revisitou, com todos, a origem da companhia e o início da actividade, mantendo a sua missão bem como o compromisso com a diversidade.

Permitiu que as pessoas processassem o que se passou dando-lhes tempo para dizer adeus, o que quer dizer dar espaço ao luto tão importante em situações de perda.

Para ser o exemplo perfeito, só faltou a Bryan Chesky ter abdicado do seu salário, de uma parte dele ou do seu bónus, como refere o autor do artigo. De resto parece ter cumprido as boas práticas de um líder autêntico. Até a de ser imperfeito.