Humanos ou recursos?

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No outro dia, ainda antes do estado de emergência em que nos encontramos, li algures uma frase que corresponde ao que penso ser o valor das pessoas nas organizações: “we are humans, not resources”. Hoje, enquanto me aplicava em tarefas domésticas rotineiras que são normalmente asseguradas por uma empregada, dei por mim a pensar na falta que ela me tem feito e aquela frase desatou a martelar-me a cabeça.

Desde há uma semana, tenho falado com alguns directores de recursos humanos, ou de pessoas, ou de capital humano ou até CEO’s que chamam a si esta missão e apercebo-me que, consoante a dimensão e o negócio da empresa que integram, estão mais sobrecarregados do que nunca. Desde a gestão do trabalho remoto, às directivas legais que vão saindo e que em alguns casos não são claras – porque a própria situação muitas vezes ainda não é clara – ao encerramento de unidades produtivas ou comerciais, para já não falar de eventuais casos de colaboradores infectados, estes profissionais não têm mãos a medir no apoio e nas decisões que têm de tomar e que dizem respeito a pessoas. Arrisco uma comparação extrema, salvaguardada a proporção, com os profissionais de saúde que nos hospitais lutam diariamente para salvar vidas com parcos meios. Acresce a necessidade de segurança que todos sentimos neste momento e em particular aqueles que temem pela continuidade do seu emprego. Quem é que lhes vai comunicar um desfecho que para muitos pode ser dramático? A equipa de recursos humanos. Quem é que mostra a sua total disponibilidade para responder às perguntas mais elaboradas ou mais infantis que sempre surgem em momentos de pânico? A equipa de recursos humanos. Quem é que dá atenção e escuta quem precisa de ser escutado? A equipa de recursos humanos.

Lemos relatos acerca do lado positivo de estarmos a trabalhar a partir de casa: a possibilidade de conciliar a vida pessoal e profissional, o termos mais tempo para o que é verdadeiramente importante, o percebermos que andámos todos a correr sem sentido, fazem parte desse lado positivo. Pois bem, há equipas de recursos humanos cuja sobrecarga não é compatível com esse discurso.

É claro que existem equipas mais robustas do que outras, que se dotaram de  ferramentas que lhes permitem uma gestão de pessoas mais serena, que provavelmente reagiram mais depressa à emergência, mas uma coisa é certa: nada vai ser como dantes e porque são seres emocionais e sociais, as pessoas deveriam deixar de ser consideradas como recursos. As máquinas são recursos e certamente podem ser nossas aliadas, mas as pessoas são “humanos, não recursos”.

Um Viva às equipas que dirigem os humanos nas organizações!