Eu, Eles, Nós

 Em Cultura de Empresa, Desenvolvimento, Liderança

As interrupções nas cadeias de distribuição, a que temos assistido, levam o sociólogo Eduardo Paes Mamede, em entrevista ao Público, a considerar que “a pandemia foi um momento em que se percebeu que o excesso de interdependência pode constituir um risco grande, não apenas para a saúde pública, mas também para o funcionamento das economias”. Este fenómeno poderá acarretar ainda, segundo EPM, “uma certa desglobalização, pelo menos em alguns domínios estratégicos”. Se é verdade que os excessos tendem a causar disrupções e que, numa perspectiva macroeconómica, essa tendência para a “desglobalização” quem sabe, possa trazer benefícios, sobretudo para o Planeta, o meu pensamento saltou para o conceito de interdependência aplicado às equipas numa organização.

Acredito que o funcionamento eficaz de uma equipa obedece a três requisitos: um objectivo comum que seja muito claro para todos os seus membros, o conhecimento do papel de cada um para o alcançar e um processo de comunicação fluido entre as pessoas que constitua uma espécie de contrato de equipa. Se estas condições estiverem reunidas e aliadas ao envolvimento de cada um na construção do caminho para chegar ao objectivo, promove-se a autonomia e a responsabilidade que quase sempre arrastam bons resultados.

Atrevo-me a extrapolar algumas das fases do desenvolvimento do ser humano, que podem ou não ser ultrapassadas, ou que podem ser todas revividas, dependendo do contexto em que nos encontremos, para os comportamentos que observamos mais tarde nas organizações. É assim que aquela fase em que o bebé ainda não se distingue do outro, de quem é totalmente dependente, pode surgir em muitas organizações através de comportamentos centrados no Eu. Por exemplo, “não sou eu que tenho de fazer isso”, ou “faço porque me mandaram”. Também a fase do Eles, que nos remete para tempos de adolescência em que, ao contrário da anterior, nos sentimos independentes e muitas vezes desconectados do outro, é visível na chamada conversa de corredor com um “nunca somos informados”, ou “eles é que decidiram assim”. Já a maturidade leva-nos a compreender que precisamos uns dos outros, somos interdependentes e o Nósganha terreno. Quando estamos conscientes do nosso papel na organização, e também do daqueles com quem trabalhamos, reconhecendo a importância da colaboração para um bem comum, a equipa é uma realidade.

É claro que para uma equipa atingir a maturidade, e não me canso de o afirmar, as pessoas que a constituem precisam de ser tratadas como adultas o que implica, entre outras acções no quotidiano, serem chamadas a desenhar em conjunto o caminho para atingir o objectivo de acordo com os seus próprios interesses e ambições e os da organização. Os interesses de ambas as partes não serão todos salvaguardados, mas pode atingir-se um patamar em que todos ganham que é sempre melhor do que aquele em que todos perdem. Isso consegue-se, geralmente, num clima de suporte e apoio, gerador de confiança que, como sabemos, necessita de algum tempo para ser construída e de muito pouco para cair por terra.

Se está a definir ou a redefinir objectivos para a sua equipa em 2022 pense que pode dar bom resultado reflectir sobre estas variáveis. Bom Ano!