Está a acontecer
Durante o confinamento levei a cabo um recrutamento para uma posição na área do digital. Ao longo da pesquisa fui confrontada com uma realidade que até à data pertencia à teoria: os potenciais candidatos não queriam um emprego, queriam um trabalho, um projecto, uma missão, o que se lhe quiser chamar, mas não um contrato de trabalho – e queriam trabalhar, preferencialmente, em modo remoto, mesmo depois do confinamento terminar.
Segundo Adam Grant, psicólogo organizacional na Wharton School da Universidade da Pensilvânia, que escreve um artigo muito interessante na Economist, o legado do Covid passará pela satisfação no trabalho, por uma liderança com mais ética e compaixão e pela confiança. Se é verdade que há muito tempo vimos falando destes factores como sendo inevitáveis no mundo corporativo, quero aqui relevar o que Grant traz de novo à dimensão satisfação no trabalho. Segundo ele muitas pessoas começam a perceber que não precisam de um escritório para trabalhar nem de pertencer a uma organização, antes a uma ocupação e que a tendência será para o renascimento das guild ou afiliações, grupos que partilham competências em parcerias que incluem segurança e benefícios e em que, no fundo, cederão as suas competências à missão que tenha mais significado ou à que pagar melhor. Creio que foi esta a situação que encontrei na pesquisa que referi.
Alguns gestores poderão ver esta tendência com desconforto, sobretudo aqueles que são adeptos de um controlo apertado e praticam a micro gestão. Mas é fundamental que tenham presente que esse estilo de liderança não contribui para a construção de um espírito de lealdade por parte dos colaboradores e pode gerar um círculo vicioso de desconfiança do líder.
De qualquer maneira e ainda segundo Adam Grant haverá sempre as pessoas que pagarão a sua “taxa de paixão”, aquelas que adoram o seu trabalho e que estarão dispostas a sacrificar dinheiro, tempo e conforto. É aqui que surge a liderança com ética e compaixão. Se pudemos assistir a executivos que renunciaram aos seus salários, também vimos alguns líderes que, numa situação de crise como a que vivemos agora, foram capazes de despedir colaboradores online. Quem vos parece que terá mais facilidade em atrair talento no futuro?