Cooperação

 Em Cultura de Empresa, Liderança, Mudança

Leio algures o título de um artigo ilustrado com uma fotografia de vários automóveis submergidos por uma cheia: “Adaptação e sobrevivência: 5 formas de os países reforçarem as defesas face a um planeta cada vez mais hostil”. Enquanto os humanos considerarem que é o planeta que é hostil, e não os próprios humanos, estaremos em negação face a medidas que possam tornar o planeta “menos hostil”. Quando o comportamento humano deveria apontar para deixar de causar mais danos, limita-se a apontar para estratégias defensivas face aos danos que nós próprios causamos. Assim estamos apenas a querer competir num terreno de forças muito desequilibradas, o que pode conduzir a uma situação de perda para ambas as partes, numa palavra, para a destruição.

Lembrei-me assim do que se passa em algumas organizações onde a competição entre pares leva facilmente à existência de silos, isto é, a áreas que julgam ser possível funcionar de maneira independente, gerando uma disfuncionalidade quase sempre preocupante.

No ecossistema das empresas, a competição baseia-se na crença de que é possível uns ganharem e os outros perderem e ainda assim o todo sair a ganhar. De uma maneira geral, a longo prazo, não é isso que acontece, mesmo quando existe um mínimo de cooperação. Só a cooperação sinérgica permite obter um resultado superior ao obtido isoladamente por cada uma das partes, conduzindo a uma situação em que ambas as partes saem a ganhar.

O que leva então a que essa disfuncionalidade persista em algumas organizações, mesmo naquelas que promovem a construção de equipas coesas, através, por exemplo, de encontros regulares, os chamados team building? Na minha prática tenho observado, já o referi em diversos fóruns, que as pessoas querem em primeiro lugar ser tratadas como adultas. E o que significa isso? Serem escutadas, terem a informação e os recursos necessários para desenvolverem o seu trabalho, receberem feedback acerca do seu desempenho, terem oportunidades de desenvolvimento e serem devidamente remuneradas. Quando estes básicos estão assegurados, a empresa até pode dispensar os poufs, as mesas de matraquilhos, a manicura, o ginásio e outros benefícios que aparentemente facilitam a vida dos seus empregados – mas muitas vezes mais não fazem do que reter as pessoas no trabalho além do que é esperado. É claro que um ambiente físico agradável tem um papel importante na maneira como as pessoas trabalham, mas o equilíbrio só se consegue se houver sintonia entre condições físicas e a maneira como as pessoas são tratadas enquanto profissionais.

Para uma organização funcionar de maneira saudável e produtiva, é necessário atender ao que as pessoas valorizam e não ao que se pensa que as pessoas valorizam. Mesmo quando os interesses de cada um são diferentes, como é o caso entre accionistas, gestores e empregados, é possível alargar a zona de intersecção desses mesmos interesses. Para tal pode ser que seja preciso abrir mão, por um lado, da avidez, e da reivindicação por outro, para o todo ganhar.