Compaixão e liderança

 Em Liderança

Leituras recentes levaram-me ao tema da compaixão numa época em que tanto se fala de empatia. Como os mais avisados saberão trata-se de conceitos diferentes. Enquanto a empatia se refere à capacidade de compreender e sentir a experiência do outro sem que necessariamente a compartilhemos, a compaixão inclui o desejo de ajudar – como refere Paul Gilbert. Segundo este psicólogo a compaixão é uma “sensibilidade ao sofrimento em si e nos outros e um compromisso para aliviar o sofrimento”.

Também Julian Thayer, que recentemente esteve em Portugal, estuda a compaixão. Os estudos deste especialista em psicofisiologia estabelecem uma relação entre o nervo vago e a variação da frequência cardíaca e diz-nos que esta é mais elevada nas pessoas com melhores relações.

Como reconhecer o sofrimento e ao mesmo tempo  minimizá-lo nestes tempos conturbados em que cada um parece viver por si e para si? Falo da vida no mundo, na sociedade e também no quotidiano das organizações. Não há muito tempo a palavra de ordem era “felicidade”, empresas felizes. Hoje o burnout, ou aquilo a que se chamava esgotamento nervoso, tomou conta das preocupações de muitas empresas, algumas delas já a contratar especialistas para a sua prevenção ou tratamento.

Talvez conviesse que, antes da chamada de profissionais para tentarem resolver esse problema, os líderes tomassem consciência de como a compaixão pode melhorar o exercício da liderança. Que práticas podemos associar à compaixão? – Dedicar tempo a ouvir as preocupações e ideias da equipa; reconhecer e valorizar o trabalho, demonstrando apreço pelo esforço; estar aberta a ajustes de horários que permitam equilibrar a vida (sim, prefiro falar da vida sem mencionar o estafado Pessoal/familiar/profissional); aprender a dar feedbackpositivo e, quando negativo, aprender a fazê-lo de maneira positiva. Também já sabemos o que daqui resulta: o compromisso das pessoas com os objectivos da empresa, um ambiente de trabalho motivador e um aumento da produtividade.

Parece que a “pólvora” já foi descoberta há muito tempo. Então o que leva a que ações conhecidas como tendo efeitos positivos sejam ainda tão descuradas em algumas organizações? Existem sempre razões para os nossos comportamentos, ainda que possamos desconhecê-las. Neste caso atrevo-me a falar da ganância por resultados e/ou de traços narcisistas que conduzem a uma necessidade de controlo e manipulação do outro, de um apetite voraz pelo poder.

Se olharmos para o mundo à nossa volta facilmente concordaremos com a afirmação que Thayer fez no jornal Público: “Temos de ter compaixão – esse será o nosso segredo para sobreviver”.