Autoritarismo ou autoridade
Autoritarismo ou autoridade
Um estudo recente sobre os Valores dos Portugueses, levado a cabo pelo ICS – Instituto de Ciências Sociais, revela que só 37% dos portugueses rejeitam um líder autoritário. Não quero debruçar-me sobre o referido estudo, tanto mais que aquele indicador se refere à nossa relação com a democracia, e não é isso o que me traz aqui. No entanto, na minha opinião, existindo tantos exemplos que atestam o tratamento infantil a que somos sujeitos enquanto cidadãos adultos – e que podem explicar muitos dos nossos comportamentos – serve este tema para um desvio para o mundo da gestão, onde a realidade é bem diferente. Com efeito deve ser feita uma distinção entre o que é um líder autoritário e um líder com autoridade.
Por força da minha actividade disponho de exemplos quer de líderes, quer de liderados, que confundem os conceitos. Uma coisa é certa: muito poucos desejam ser vistos como autoritários ou ter como líder alguém cuja tendência seja o desrespeito e a desvalorização das pessoas que trabalham consigo. O escrutínio a que hoje as lideranças estão sujeitas, por parte daqueles que são considerados talentos, nunca foi tão apertado. Tornou-se um chavão a frase, “não se abandona uma empresa, abandona-se a chefia”. Isto é tão verdade que vejo cada vez mais pessoas a preterirem uma remuneração mais alta em favor de um ambiente que lhes permita terem voz.
Na verdade, um líder que assume a responsabilidade pelas decisões que toma, ao mesmo tempo que permite que os outros participem no processo de tomada de decisão, respeitando e/ou valorizando as suas opiniões, pode ser considerado uma pessoa com autoridade. Já aquele que tem tendência para tomar decisões de forma independente, sem qualquer intervenção da sua equipa, será considerado autoritário. É claro que existem muitas outras características que contribuem para a diferença entre os dois estilos de liderança, e um deles, importante, é o líder constituir-se como exemplo dos comportamentos que deseja que vigorem na organização.
Os tempos acelerados que vivemos obrigam a decisões rápidas com base em dados muitas vezes novos e paradoxais e cujas consequências são às vezes imprevisíveis. É justamente para prevenir este tipo de cenários que o autoritarismo deve ser banido para dar lugar a uma tomada de decisão suportada pela diversidade de opiniões, por novos olhares e diferentes perspectivas. Então, mas a decisão não era para ser rápida? Ouvir os outros pode aliás poupar tempo, ajudando a garantir uma melhor decisão. O investimento de tempo necessário para este processo vai ter retorno garantido. Emendar ou voltar atrás vai consumir tempo, energia e sobretudo o comprometimento da equipa. O que acontece quando esse comprometimento deixa de existir? Aqueles que não têm alternativa e são obrigados a manter-se na organização adoptam uma atitude de passividade negativa (aquela que faz com que as coisas não andem), os considerados talentos serão um alvo fácil para outras organizações. Em qualquer dos casos é sempre a produtividade que é posta em causa.