As armadilhas do empowerment
O conceito anglo-saxónico do empowerment foi, nos últimos anos, rapidamente adoptado pela linguagem empresarial, e também pela sociedade, se pensarmos no empowerment das minorias, que está na ordem do dia. O empoderamento, para quem prefere utilizar a palavra traduzida à letra, não é mais do que atribuir poder ou autoridade o que pressupõe que as pessoas ganhem autonomia e assumam responsabilidade.
O valor que uma empresa ou organização pode obter com a descentralização do poder passa, por exemplo, pela maior rapidez nos processos de decisão já que em muitas situações não será necessário subir vários degraus para chegar ao todo-poderoso que é o único a decidir. Desde logo a burocracia diminui, as equipas tornam-se mais flexíveis e a organização mais ágil, como facilmente se compreende.
No entanto este é um processo que enfrenta várias armadilhas e estas, quando não acauteladas, boicotam as vantagens que se podem obter e ouve-se o tradicional “não deu resultado”. Uma das principais armadilhas é querer andar depressa demais como é usual num tempo em que as surpresas no mundo se sucedem a um ritmo difícil de acompanhar. Quando a cultura da empresa tem anos de poder centralizado, querer andar depressa na sua transformação traz resultados que podem ser equiparados aos de uma digestão difícil, a uma apropriação do poder inadequada, dando lugar a iniciativas individuais por vezes patéticas ou a receios que não devem ser ignorados. Alguém que nunca teve autonomia fugirá dela como uma criança maltratada de um abraço.
Só o conhecimento e a informação permitem tomadas de decisão conscientes e responsáveis, por isso a partilha e o acesso de todos a essas duas variáveis é crucial. Não as autorizar é facilitar o boicote.
É claro que abandonar o modo de comando e controlo também não é fácil. Mas, mais uma vez, há passos incrementais que podem e devem ser dados. Atribuir poder não significa abdicar de o ter, antes assumir o papel de quem facilita a atividade inerente ao negócio. Esta poderá ser uma reflexão a fazer antes de qualquer mudança. Na verdade, quando a palavra liderança é associada à detenção de poder e de força, quem está ao comando tem dificuldade em abrir mão de uma atitude que inibe o empoderamento dos outros. Por outro lado, quem é comandado, ou quer chegar ao poder ou rejeita a possibilidade de atingir uma posição de liderança, como acontece com aqueles que afirmam “eu não gosto de mandar”, como se os extremos fossem as únicas alternativas que conhecem. Ser capaz de combinar uma atitude de controlo com a partilha do poder, exige visão, obriga a definir responsabilidades de actuação e implica o acompanhamento dos empoderados, o que é o contrário de deixá-los à sua sorte. É ainda importante ter consciência de que a força que se ganha quando se é empoderado só advém da disposição para aceitar responsabilidades acrescidas.