A fecundidade dos portugueses
‘Nascer em Portugal’, um estudo profundo como todos aqueles a que a Fundação Francisco Manuel dos Santos já nos habituou, diz-nos que a fecundidade começou a decair nos anos 80 e que a economia não explica tudo. Também me parece que não e dei a minha opinião ao jornal OJE que pegou no estudo para fazer uma excelente reportagem.
Definitivamente, ter filhos é, muitas vezes, uma batalha entre o querer e o poder. Dalila Pinto Almeida, consultora de Recursos Humanos, responsável por operações de recrutamento há largos anos, chama em particular a atenção para a vida profissional: “Há um aspeto que considero incontornável para um entendimento da baixa fecundidade e que se prende com a cada vez maior presença das mulheres no mercado de trabalho e em lugares de responsabilidade”. Explica que as carreiras são desenhadas mais cedo, a competição começa desde logo na entrada nas universidades, durante e à saída.
Por outro lado, vinca: “os apoios à maternidade são limitados e muitas empresas ainda olham para as licenças de maternidade como um fardo. Para não falar da possibilidade que hoje também os pais têm de usufruir dessa licença. Olha-se de lado para um pai que decide acompanhar um bebé. Também o ritmo a que tudo acontece nas empresas leva a que, durante uma ausência por maternidade, a dinâmica que se vai encontrar no regresso esteja alterada ao que há a acrescentar o período devido de amamentação”.
É claro que existem muitas outras causas para esta questão que não é exclusiva de Portugal. A demografia é uma das questões mais importantes com que o Planeta se debate para a sua própria sustentabilidade.
No que estiver ao alcance do mundo do trabalho, é importante que as empresas encarem a maternidade como necessária e que encontrem os melhores mecanismos para reter talentos em idade fecunda.
Isto significa ir para além do que a lei prevê, mas significa sobretudo uma mentalidade: ficar-se feliz porque uma colaboradora ficou grávida, ser natural e não fazer uma colaboradora sentir-se culpada pelo período de amamentação, dar oportunidades de crescimento a quem tem filhos pequenos permitindo conciliar as duas realidades. Se calhar isto só é possível se, em vez de se recrutarem reforços só para o período de licença, se recrutarem reforços para uma equipa funcionar em qualquer altura.