A caminho do futuro
Habituámo-nos, no mundo do trabalho, à catalogação das gerações. X, Y, Z, Alpha – há para todos os gostos. A mais referida continua a ser a Y, a dos “millennials”, os que nasceram entre 1985 e 1999, ou seja, os primeiros já muito perto dos 40 anos e ao leme de muitas empresas, aqueles que nunca lidaram com um ambiente de inflação. Os Z e os Alpha nascidos depois de 2000, na era digital, com o dedo no ecrã por assim dizer, vivem as crises – porque nasceram nelas – sem saberem o que não é uma economia de crise.
Depois de ouvir uma TedX de Jennifer McDonald, uma professora, activista e também produtora de filmes, deparo-me com a nomeação da geração D, a geração dos deslocados. São mais de um milhão de crianças que vivem em campos de refugiados por tempo indeterminado. Quando de lá sairão? Já todos percebemos que a sua passagem pelos campos não é transitória e que muitos deles foi aí que nasceram e nascem e é aí que vão crescer. McDonald fala do que sabe porque esteve lá, viu como aquelas crianças são privadas, além das necessidades mais básicas, da brincadeira, do jogo, fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e afectivo.
Muito perto desta constatação “lapalassiana”, leio um artigo da MIT Sloan School sobre as competências imprescindíveis da força de trabalho futura, a saber: os empregados do futuro devem ter orientação para big data, isto é, saber lidar com enormes quantidades de informação. Existiem até empresas que já incluem um especialista em data em todas as suas unidades de negócio, que reportará a um órgão central de data. De seguida é mencionada a necessidade de estarem confortáveis com inteligência artificial, “machine learning” e robôs. Têm ainda de ser pessoas empoderadas, capazes de aceitar responsabilidades e que respeitam o valor de um bom trabalho. E, claro, a cereja no topo deste delicioso bolo, devem ser pessoas comprometidas com a defesa da equidade e do ambiente. Seguramente não será num campo de refugiados que se ganham estas competências.
Que vivemos num mundo de contrastes cada vez mais acentuados é uma realidade e estes exemplos extremos devem fazer-nos pensar sobre quão criminoso é perdermos uma geração de maneira tão trágica e consciente.
Agora que se vive nas grandes empresas uma autêntica corrida às certificações ESG (Environment, Social and Governance), seria muito positivo que os seus líderes reflectissem sobre como podem contribuir para minorar as grandes e graves questões geo-políticas, ambientais e sociais que o mundo enfrenta.